tag:blogger.com,1999:blog-368625542024-03-13T07:42:42.273-03:00Cálida PoesiaTodas as flores que já conversaram comigo não me disseram nada além de mentiras...
(Anne-Marie de Backer)Simone Teodorohttp://www.blogger.com/profile/08248117674634391169noreply@blogger.comBlogger131125tag:blogger.com,1999:blog-36862554.post-9535873504947529442016-04-11T16:45:00.002-03:002016-04-19T11:06:59.168-03:00Caríssima<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px; margin-bottom: 6px;">
Caríssima,<br />
o cheiro de merda<br />
sabota a mentira do boulevard:</div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
águas impuras escorrem nesses subterrâneos<span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><br />infectas<br />como as bocas dos vermes que roem carnes ricas sob os granitos luxuosos do Bonfim</span></div>
<div class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #141823; display: inline; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">
<div style="margin-bottom: 6px;">
Caríssima,<br />
já é outono<br />
e nem sequer um vento de alívio<br />
para aplacar a febre dos dias</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Ardem meus olhos<br />
Arde o céu, de azul impassível</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Meu coração é um tonel de vinho<br />
vazio</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Sou animal de volúpia<br />
farejando o elixir<br />
da morte veloz</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
A vida inteira<br />
fervendo líquidos tóxicos<br />
&<br />
lustrando pedras sem nenhum valor</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
A vida inteira<br />
decantando o desejo das frivolidades do amor</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Caríssima,<br />
Nunca tente fixar meus elementos voláteis<br />
Não desperdice comigo tuas paixões de cobalto.</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Vaticinou-me uma sombra<br />
que eu seria toda paladar e olfato.</div>
</div>
Simone Teodorohttp://www.blogger.com/profile/08248117674634391169noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-36862554.post-42155140873539097832015-08-31T18:49:00.001-03:002015-08-31T18:58:58.586-03:00Sombras na Afonso Pena<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O ônibus sempre atrasado.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Entrei, abrindo caminho entre
tarados, crentes e jovens tagarelas. Tinha um lugar pra sentar no fundo, mas
tava vomitado. Fiquei onde estava. De azedume já bastam as caras de bunda de
meus desafetos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Enfiei a mão no bolso e tirei de
lá um pedaço de papel todo amassado. Era uma lista de tarefas: consertar
celular, comprar remédio da mãe, comprar meus remédios, ir aos correios.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ontem fui a casa da mãe. Ela
ficou meio incomodada com a largura da minha bermuda, acha mais bonita, pra
mulher, roupa justa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Fôdas”, mãe (!), quer dizer meu verdadeiro
selfie, lá no fundo de meus pensamentos. “Mas, mãe, eu gosto assim”, é o que
diz meu falso selfie, para não desencadear o stress do conflito. Ela fala
qualquer coisa sobre a vontade que tem de dar socos em sapatões. Na novela das
9 duas mulheres se beijam, acho que foi por isso que ignorou completamente minha
condição, ao fazer esse comentário. Falou por impulso, penso. Acho que ela
nunca teria intenção de me magoar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ela tá com a pele toda sulcada. Toda
vez que a vejo o Tempo, pregado na cara dela, me ameaça: “ Você vai perder
feio, garota” Ele me diz. “E vai ficar com sequela”.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O tempo é bom às vezes, eu sei. Sem
ele a gente cometeria suicídio assim que nosso primeiro gato morresse entalado
com a vértebra do peixe. Mas sua outra
face é a de um artista perverso que gosta de desenhar traços profundos na cara
da gente e das pessoas que a gente ama. Depois rasga a gente ao meio, com sua
caneta pontuda. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Filho da puta duma figa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O correio fecha às 17 horas e o
Tempo, herdeiro primogênito do Capeta, de propósito, está passando com mais
pressa. E o ônibus, claro, não poderia andar mais devagar. Dizem que a culpa é de
um tal de Murphy, mas sei que é do próprio chifrudo encaralhado.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Quando contei pra mãe que eu era
lésbica ela não me deu um soco. Se protegeu do jeito que sabe, com o escudo da
fantasia. “Faz de conta que não”, e tudo está bem. Foi assim que ela sempre
viveu.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Mas já me bateu, em inúmeras
outras situações. Algumas são memoráveis:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;">
<!--[if !supportLists]-->1)<span style="font-size: 7pt; font-stretch: normal;"> </span><!--[endif]-->Eu
tinha uns cinco anos. A rua de casa parecia o solo lunar, tamanha era a
quantidade de crateras que tinha. Choveu. Os buracos viraram piscinões. E lá
fui eu me banhar na lama. Ela me puxou pelos cabelos. Mãe nervosa era capaz de
constranger todos os círculos do inferno.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;">
<!--[if !supportLists]-->2)<span style="font-size: 7pt; font-stretch: normal;"> </span><!--[endif]-->Mais
ou menos na mesma época tentei escalar o armário da cozinha. Ele caiu em cima
de mim. Surra de mãe, com cinto pesado de pai.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;">
<!--[if !supportLists]-->3)<span style="font-size: 7pt; font-stretch: normal;"> </span><!--[endif]-->Eu
tinha 16 anos. Queria ir pro enterro de uma tia avó, mãe disse que não.
Desboquei-me toda com ela, de maneira tipicamente adolescente. Segui para o
banho, altiva, com a certeza de que ela havia se intimidado com meu xingatório.
Me esperou ficar pelada e abrir o
chuveiro. Arrombou a porta e destruiu um cabo de vassoura na minha cabeça.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-align: justify;">
Olha só, que
salafrário esse cara querendo me cobrar um absurdo pelo conserto do telefone!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-align: justify;">
“Enfie sua mão
de obra no cu”, que dizer meu verdadeiro selfie, lá no fundo de meus
pensamentos. “Nó, véi, tô achando meio
caro, obrigada”, é o que diz meu falso selfie, para não desencadear o stress do
conflito.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-align: justify;">
Um rapaz toca
violino na esquina, o sol está ameno e firme, tem tanta gente nas ruas, quanto
é profundo esse céu de outono lá nas alturas onde estão desenhados os últimos
andares dos edifícios. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-align: justify;">
Na farmácia peço
Carvedilol pro coração da mãe e escitalopram pra minha ansiedade. O que deus
não dá, a farmácia vende, ouvi alguém dizer um dia. Quem me dera vendesse aqui
também um remédio que congelasse a beleza, ou que, pelo menos, não deixasse a saudade
matar a gente aos pouquinhos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-align: justify;">
Eu tinha vinte e
poucos anos e morava numa casa velha com quintal. Todas as tardes eu saia pra
faculdade e batia com força portão verde de grades, já meio comidas pela
ferrugem. Ao fazer esse gesto corriqueiro, olhava pra trás, para me despedir do
pai e da mãe. Dentro da moldura carcomida do portão, sempre a mesma pintura: a
mãe dizia “vai com deus minha filha”, enquanto esfregava nossas roupas num
tanque antiquado e o pai repetia suas palavras, interrompendo a tarefa de fim
de tarde, que era varrer as folhas que o vento tinha arrancado das árvores.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-align: justify;">
Teco, o meu
cachorro, enfiava sua cara preta e peluda entre as grades, e chorava minha
partida daquela tarde.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-align: justify;">
Um dia, quando eu
me voltava para repetir o gesto, o Tempo, filho da puta ordinário, zombou de
mim, ao me avisar que em breve não haveria mais nada daquilo; nem pai, nem mãe,
nem benção, nem portão, nem cachorro e que eu perderia para sempre a doce combinação
disso tudo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-align: justify;">
Saí doendo dali,
desci a rua de terra, passei pelo córrego sujo, tropecei num rato podre. O
choro do cachorro foi sumindo devagarinho.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-align: justify;">
Daí pra frente o
tempo foi preciso. A ferrugem comeu o resto portão e quase tudo que havia atrás
dele. A gente se mudou da casa, a faculdade terminou, pai morreu antes dos 60,
eu abandonei a família e o Teco definhou de saudades de mim.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-align: justify;">
Demora da porra
na fila do correio. Quinze minutos sem chamarem nenhuma senha!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-align: justify;">
Meu verdadeiro
selfie sonha que estou mandando todos os atendentes para o caralho que os parta,
mas meu falso selfie me mantém sentada e pacífica, para não desencadear o
stress do conflito.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-align: justify;">
Será que há
muitas outras pessoas que, como eu, estão em constante perigo de explosão?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-align: justify;">
Saio de lá uma
hora depois e mergulho na Avenida Afonso Pena quase toda molhada por sombras.
Subo a João Pinheiro, onde quase sou atropelada por um ciclista. Penso na
bicicleta que montei, quando criança, com peças compradas de um depósito de
sucata.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-align: justify;">
Será que há muitas pessoas que, como eu,
fizeram seus sonhos emergirem da ruína?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-align: justify;">
Me bate um
tristeza funda e fico com vontade de escrever uma longa e comovente carta de
suicida.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-align: justify;">
Ela seria
lindíssima, e todos que a lessem seriam, irremediavelmente, feridos pelo “tarde
demais”. Ficariam para sempre em estado
de perda, pois se lembrariam de todas as suas coisas, inexoravelmente desaparecidas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-align: justify;">
De todas,
todas...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-align: justify;">
Um amor, um pai,
uma mãe, um irmão, um cachorro, um anel, um livro, um bilhete, um vento, um tom
de azul.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-align: justify;">
Ao ler minha
carta de suicida todo mundo ia se sentir um pouco Parsifal, se lamentando, pela
eternidade afora, a ausência do seu cálice sagrado.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-align: justify;">
Tarde demais,
tarde demais...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpLast" style="text-align: justify;">
E ela nunca, nunca
mais conseguiu parar de chorar.<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
Simone Teodorohttp://www.blogger.com/profile/08248117674634391169noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-36862554.post-53843488781073279952015-05-30T11:51:00.001-03:002015-05-30T11:51:55.586-03:00Uma fila<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-bottom: 6px;">
Há alguns anos, eu guardo um coração. Coração mesmo, órgão, como a "lua satélite" do Bandeira. Vigio com zelo, conto batidas, procuro remediar suas irregularidades rítmicas, percorrendo farmácias, esticando a corda da vida com caixas de comprimidos.<br />Há anos também eu lido com uma ferida.Ferida mesmo, sem metáfora. Sou especialista em marcas de ataduras.<br />Toda vez que leio num papel algum resultado que me diz que o coração dela está um pouco mais fraco e a cada vez que a ferida se abre de novo, eu sinto um gosto de fim e de derrota.<br />Como se fora incapaz de manter o fio esticado, como se houvera falhado.<br />II<br />Mãe ficou doente de uma hora para outra.<br />Quando a encontrei em casa, só, ela não podia respirar. No caminho até o hospital, pensei que assistiria a sua morte enquanto dirigia e que aquela se tornaria a mais infeliz de todas as noites mais infelizes que já amarguei nessa vida.<br />Desde então, alimento seu coração com pílulas. Desde então, vigio seu pulsar através de imagens ultra- sônicas que me fornecem números que me indicam medidas de força e desempenho.<br />III<br />E é por isso que frequentamos este ambulatório, onde pessoas fazem exames periódicos para também vigiarem seus corações. Aqui funciona também um bloco cirúrgico. O que mais se vê são velhos adiando a morte e jovens estropiados. Muita gente não tem uma das pernas. Muita gente não tem nenhuma. Muletas, cadeiras de rodas e tristeza pingando de olhos. E gente mal educada nos guichês de atendimento.<br />Uma fila.<br />Aí, na fila, um senhor de noventa e tantos tenta passar na frente de todo mundo.Alega ter prioridade.</div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Eis que começa o fuzuê.<br />Um rapaz, cuja perna provavelmente tinha sido triturada por uma roda de caminhão num acidente de moto, se revolta e manda o senhor de noventa e tantos tomar no cu, porque aqui, meu senhor ( esse "meu senhor" foi cheio de ironia e raiva) não tem isso de prioridade não, todo mundo tá fodido, o senhor tá com o pé na cova, morreu e esqueceu de cair e eu aleijado para sempre, vai tomar no cu, vai se foder, vai furar fila na casa da puta que te pariu.<br />O senhor de noventa e tantos se ofende e vem arrastando sua corcunda lá da boca do guichê e desce um murro no peito do rapaz da perna triturada. E lhe dá um empurrão. O rapaz cai prum lado, a muleta voa na direção de uma velha meio morta, que vegeta numa cadeira de rodas.<br />O senhor de noventa e tantos avança sobre o rapaz da perna triturada, que ainda não tinha conseguido se levantar. Dá-lhe tapas, puxa-lhe os cabelos.<br />O segurança aparece para acabar com a confusão.<br />Quando o senhor de noventa e tantos é levado para um canto pelo guarda, está chorando. Murmura para si mesmo: " nunca diga, nunca diga, seu filho da puta, que eu estou morrendo"</div>
<div style="background-color: white; color: #141823; display: inline; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-top: 6px;">
IV<br />Há alguns anos, eu guardo um coração.Eu o alimento com pílulas e analiso números que indicam medidas de força e desempenho.<br />Eu trago sempre um pacote de ataduras.<br />Minha função é manter esticada a corda da vida.</div>
Simone Teodorohttp://www.blogger.com/profile/08248117674634391169noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-36862554.post-74961009164601849152015-05-29T10:21:00.001-03:002015-05-29T10:21:06.105-03:00Catástrofe<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;">Dez mil trilhões, de trilhões, de trilhões, de trilhões, de trilhões, de trilhões, de trilhões, de trilhões de anos será o tempo total de existência do universo. Um pouco antes da grande catástrofe, por aqui só haverá aridez e desolação: não mais o mar. Não mais as sombras das copas das árvores. Nunca mais esse céu.</span><br style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;" /><span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;">Somente um sol expandido, fumegante, faminto e a paisagem em brasa. Estrelas haverá, mas serão estranhos astros congelados.</span><br style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;" /><span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;">De nós nem sequer um vestíg</span><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #141823; display: inline; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;">io fossilizado.<br />No entanto, atravesso os ventos e as ruas movimentadas nessa manhã iluminada de outono.Plantas germinam, há vozes e cheiros em toda parte.<br />Ainda há céu e ele é dolorosamente azul e desconcertante de beleza.Como alguns sonhos que ainda ouso. Nos quais há uma promessa e um grito sem resposta.Nos quais há o amor atrás de uma porta que nunca abre. Nos quais chove como apenas em sonho. Chove como apenas num poema do Pessoa.<br />Chove, eu amo, há uma porta fechada.<br />Desperto, não chove já e o céu é vasto de luz nesta manhã em que mora minha saudade.<br />De nunca ter sido o que nunca saberei.<br />Quando a atmosfera solar tragar de vez a órbita terrestre eu já terei me dissolvido, há tempos, na umidade do oco.Minha carne, meus olhos, meus cabelos. O calor já terá derretido todas as minhas vértebras e dentes e outras partes endurecidas de mim.<br />Mas por enquanto ainda é milagre.<br />E atravesso a rua e a luz da manhã enchendo os pulmões do ar gelado que me alimenta.<br />Vem junto um cheiro de flores maceradas, de café, incenso e merda.<br />Por enquanto ainda é milagre.</span>Simone Teodorohttp://www.blogger.com/profile/08248117674634391169noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-36862554.post-34110920014890445342015-05-29T10:20:00.005-03:002015-05-29T10:20:41.726-03:00A música das águas<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-bottom: 6px;">
Maio amanheceu<br />Cantando<br />Notas de chuva<br />E frio.</div>
<div class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #141823; display: inline; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;">
<div style="margin-bottom: 6px;">
A música das águas<br />Dodecafônica tempestade<br />Embala</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Nosso sono-quadro em<br />Chiaroescuro,<br />Nosso sono quente<br />E de ternuras macio.</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Nosso sono:<br />Tua respiração<br />Em minha face.</div>
</div>
Simone Teodorohttp://www.blogger.com/profile/08248117674634391169noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-36862554.post-2287057639994160692015-05-29T10:20:00.003-03:002015-05-29T10:20:18.594-03:00Entulho<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;">Tenho voz aveludada,</span><br style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;" /><span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;">Dizem,</span><br style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;" /><span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;">Mas </span><br style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;" /><span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;">No estômago, eles não sabem,</span><br style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;" /><span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;">Toneladas de entulho</span><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #141823; display: inline; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;"><br />Na garganta, aspereza e<br />Cacos de vidro.<br />Se sangro pouco<br />Quando falo<br />Ou se há um canto em vez de um grito<br />É questão de alquimia<br />É porque sou macumbeira, minha filha.</span>Simone Teodorohttp://www.blogger.com/profile/08248117674634391169noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-36862554.post-10974143071602416922015-05-29T10:20:00.001-03:002015-05-29T10:20:00.177-03:00Essa lua, esse conhaque<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
A infância talvez fosse azul<br />não houvesse tanta barata.</div>
<div class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #141823; display: inline; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;">
<div style="margin-bottom: 6px;">
Não houvesse<br />barriga vazia<br />as tardes talvez<br />fossem.</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
A fome é<br />alucinógeno natural.</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
O inferno<br />indo e<br />vindo,<br />criança desnutrida na gangorra<br />do parquinho<br />infestado de pedófilos.</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Não houvesse tanta miséria<br />a infância<br />talvez<br />fosse.</div>
</div>
Simone Teodorohttp://www.blogger.com/profile/08248117674634391169noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-36862554.post-37575011959778657032015-05-29T10:19:00.003-03:002015-05-29T10:19:30.797-03:00Com licença, com licença poética<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Tenho apenas minhas mãos<br />e um tesão maior que o mundo</div>
<div class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #141823; display: inline; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;">
<div style="margin-bottom: 6px;">
A vontade de amor<br />sempre me paralisou o trabalho</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Sou anjo esbelto e safado</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Solidão me come por dentro<br />diariamente</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Tenho minhas mãos<br />Sou mulher desdobrável<br />Eu sou.</div>
</div>
Simone Teodorohttp://www.blogger.com/profile/08248117674634391169noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-36862554.post-52867498454612908352015-05-29T10:19:00.001-03:002015-05-29T10:22:21.878-03:00Diva, macumbeira<div class="_5pbx userContent" data-ft="{"tn":"K"}" style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 1.38; overflow: hidden;">
<div class="text_exposed_root text_exposed" id="id_556865d71e8e90881154364" style="display: inline;">
<br />
<span style="line-height: 19.3199996948242px;">I</span><br />
<span style="line-height: 19.3199996948242px;">No centro de macumba</span><br style="line-height: 19.3199996948242px;" /><span style="line-height: 19.3199996948242px;">a mãe</span><br style="line-height: 19.3199996948242px;" /><span style="line-height: 19.3199996948242px;">caminhava no círculo em brasa.</span><br />
Os santos desciam<br />
para girar com ela.<br />
Foi assim que aprendi<br />
a dançar no fogo.<br />
Além disso<br />
a Avó Preta<br />
do céu de Olorum<br />
olha por mim<br />
Rainha Louca<br />
cantando no meio da roça<br />
distante de uma história paterna.<br />
II<br />
Também sou Rainha de mim.<br />
Tenho um teto todo meu.<br />
Paguei o automóvel<br />
em sessenta prestações.<br />
Foi ninguém que me deu.<br />
Homem nenhum me tem.<br />
Sou de outra mulher<br />
que é Rainha também.<br />
Ando pela casa,<br />
sem roupa<br />
e no Divã meu deito<br />
lendo Anna Akhmátova.</div>
</div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 12px; line-height: 16.0799999237061px;">
<form action="https://www.facebook.com/ajax/ufi/modify.php" class="commentable_item autoexpand_mode" data-ft="{"tn":"]"}" id="u_c_g" method="post" rel="async" style="margin: 0px; padding: 0px;">
<div class="clearfix _5ybo _2zfm _5yhh" style="border-bottom-color: rgb(225, 226, 227); border-bottom-style: solid; border-bottom-width: 1px; border-top-color: rgb(225, 226, 227); border-top-style: solid; border-top-width: 1px; height: 30px; margin: 10px -12px 0px; padding-top: 8px; width: auto; zoom: 1;">
<div class="_3el2 lfloat _ohe" id="u_c_i" style="float: left; margin-top: -3px; position: absolute;">
<div data-reactid=".3n">
<div class="__ji _2cx6" data-reactid=".3n.0" style="font-size: 13px; margin-left: 12px; margin-top: 6px;">
<a data-reactid=".3n.0.0" href="https://www.facebook.com/distraidasastronautas?ref=hl#" style="color: #6d84b4; cursor: pointer; text-decoration: none;"></a></div>
</div>
</div>
</div>
</form>
</div>
<div style="-webkit-text-stroke-width: 0px; background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 12px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; letter-spacing: normal; line-height: 16.0799999237061px; orphans: auto; text-align: left; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 1; word-spacing: 0px;">
</div>
Simone Teodorohttp://www.blogger.com/profile/08248117674634391169noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-36862554.post-27539629928748892282015-05-29T10:18:00.003-03:002015-05-29T10:18:33.499-03:00Para quem tropeça<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Mais um poema se perdeu<br />quando eu descia<br />com a pressa habitual<span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><br />as escadas sujas do metrô.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><br /></span></div>
<div class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #141823; display: inline; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;">
<div style="margin-bottom: 6px;">
Como de costume<br />foram abertas todas<br />as portas dos vagões.</div>
<div style="margin-bottom: 6px;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Nesta manhã<br />mais uma vez<br />pessoas colidem<br />como baratas envenenadas.</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Para que tanto ombro, meu Deus?<br />Pergunta meu coração<br />com a voz vacilante<br />de um convalescente.</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Me sento numa cadeira verde<br />recolhendo junto ao peito<br />uma imensa asa ferida.</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Lá fora faz sol.<br />Mas a paisagem é sempre<br />meio cinza<br />para quem tropeça<br />nas próprias ataduras.</div>
</div>
Simone Teodorohttp://www.blogger.com/profile/08248117674634391169noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-36862554.post-2579793834721048192015-05-29T10:18:00.001-03:002015-05-29T10:18:07.330-03:00Muitos carnavais<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
A pele<br />Não faz ruído<br />Quando enruga,<span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><br />Meu amor.</span></div>
<div class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #141823; display: inline; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;">
<div style="margin-bottom: 6px;">
O tempo borda em silêncio<br />Em cada face<br />Um mapa de morte.</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Em cada rosto<br />Marcado<br />Foi esculpido<br />À navalha<br />Um mapa de dor.</div>
</div>
Simone Teodorohttp://www.blogger.com/profile/08248117674634391169noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-36862554.post-91479436720233363812015-05-29T10:17:00.002-03:002015-05-29T10:17:44.946-03:00Domingo<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Ela me diz<br />que estou tão triste<br />porque viu<span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><br />em cada olho meu<br />uma antiga umidade.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><br /></span></div>
<div class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #141823; display: inline; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;">
<div style="margin-bottom: 6px;">
Revisito velhos discos.<br />Há canções que ecoam<br />sempre que a morte atravessa o jardim.</div>
<div style="margin-bottom: 6px;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Minha tristeza<br />é de quem acaba<br />de voltar de um funeral.</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Com a mão direita<br />seguro uma estrela partida.<br />Seus estilhaços se afundam<br />em minha carne.</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
( de que vale um punho fechado quando está sangrando?)<br />Na mão esquerda</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
trago uma rosa morta.<br />A escuridão de seu corpo<br />avança para o meu coração.</div>
</div>
Simone Teodorohttp://www.blogger.com/profile/08248117674634391169noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-36862554.post-80229777505947961072015-05-29T10:16:00.001-03:002015-05-29T10:16:13.614-03:00Inércia<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;">Inércia </span><br style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;" /><span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;">é também</span><br style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;" /><span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;">movimento infinito</span><br style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;" /><span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;">Voar para sempre</span><br style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;" /><span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;">retilínea</span><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #141823; display: inline; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;"><br />uniforme<br />ou até que<br />um corpo me ampare<br />ou até<br />que me arrebente a parede.<br />Ação, reação<br />e uma sinfonia<br />para o amor mais destrutivo.<br />Um lamento<br />e um blue<br />para o potencial<br />explosivo de todo amor<br />que começa com metáforas.</span>Simone Teodorohttp://www.blogger.com/profile/08248117674634391169noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-36862554.post-16464163587668924912015-05-29T10:15:00.004-03:002015-05-29T10:15:48.136-03:00Poeminha safadinho<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;">Para </span><br style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;" /><span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;">saciar</span><br style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;" /><span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;">saudade</span><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #141823; display: inline; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;"><br />siririca<br />sem-vergonha.<br />Fabulosa felina<br />arranha o caos<br />engole a lua<br />e sonha.</span>Simone Teodorohttp://www.blogger.com/profile/08248117674634391169noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-36862554.post-14746193474727185482015-05-29T10:15:00.002-03:002015-05-29T10:15:22.288-03:00Alparazolam<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Meu coração<br />é uma cripta.<br />Aqui não chegarão<span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><br />vozes de aquém.<br />Silêncio é luxo<br />só gente morta tem.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><br /></span></div>
<div class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #141823; display: inline; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;">
<div style="margin-bottom: 6px;">
Meu coração<br />é um bunker.<br />As bombas<br />ficaram do lado<br />de fora,</div>
<div style="margin-bottom: 6px;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Para dor no peito<br />nitroglicerina.<br />Para dilacerar-se<br />em espetacular explosão<br />idem.</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Ambiguidade sulfúrica<br />Disfarçada<br />com a cor<br />e a textura<br />do mel.</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Mas meu coração é uma cripta.<br />O amor ficou<br />do lado<br />de fora.</div>
</div>
Simone Teodorohttp://www.blogger.com/profile/08248117674634391169noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-36862554.post-5158490780200014722015-05-29T10:14:00.001-03:002015-05-29T10:14:13.032-03:00<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-bottom: 6px;">
Pronunciei<br />meu nome<br />para o grande espelho<br />da sala de espera.</div>
<div class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #141823; display: inline; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;">
<div style="margin-bottom: 6px;">
O Som<br />retornou em eco</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Como se eu estivesse<br />à beira do vazio</div>
</div>
Simone Teodorohttp://www.blogger.com/profile/08248117674634391169noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-36862554.post-3656911758222021012015-05-29T10:13:00.002-03:002015-05-29T10:13:51.045-03:00Esperar Saturno<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Enquanto esperava Saturno<br />Colei mil vezes meu coração<br />A Solidão hospedada em meu útero</div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<br /></div>
<div class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #141823; display: inline; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;">
<div style="margin-bottom: 6px;">
Enquanto esperava Saturno<br />Colhia amoras<br />nos intervalos da dores</div>
<div style="margin-bottom: 6px;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Enquanto esperava Saturno<br />Decorei a Primeira Elegia<br />A Solidão alargando os espaços<br />por dentro<br />A Lua sangrava através do meu corpo</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Esperei Saturno<br />com livros nas mãos:<br />"Tulipas são perigosas", eles sussurravam<br />"Flores que falam não dizem nada<br />além de mentiras"</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Enquanto esperava Saturno<br />me masturbava<br />Colhendo Luas nos intervalos das dores<br />Amoras sangravam através do meu corpo</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
E quando Saturno voltou<br />Explodi, sem pesar,<br />meu triste museu de sarcófagos.</div>
</div>
Simone Teodorohttp://www.blogger.com/profile/08248117674634391169noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-36862554.post-6270839023180253932014-09-12T09:49:00.000-03:002014-09-12T13:04:41.239-03:00LugarAqui<br />
onde foi abolido<br />
o hímen<br />
úmido hífen<br />
que nos separava.<br />
<br />
Aqui<br />
onde a língua é dinâmica<br />
e dedos são talheres.<br />
<br />
Aqui<br />
onde o grelo<br />
destrona o falo:<br />
É rijo<br />
É lindo<br />
É talo.Simone Teodorohttp://www.blogger.com/profile/08248117674634391169noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-36862554.post-14699567845538984012014-09-12T09:45:00.003-03:002014-09-12T09:45:35.999-03:00AnoitecerTecer o amor.<br />
Depois tecer<br />
a dor<br />
de o amor ter sido.<br />
<br />
Amortecer a queda.<br />
<br />
Amor só é suave<br />
na subida: canção de harpa.<br />
<br />
O inverso<br />
é farpa.Simone Teodorohttp://www.blogger.com/profile/08248117674634391169noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-36862554.post-89928654337792692522014-09-03T11:23:00.002-03:002014-09-03T11:34:54.844-03:00Fear of the dark<div class="Standard" style="text-indent: 35.45pt;">
Aqui tão escuro. E veio um vento
ventilhando pedrinhas e gravetos, arremessando-os contra a janela de madeira.
Ainda é madrugada, falta muito pra amanhecer?<o:p></o:p></div>
<div class="Standard" style="text-indent: 35.45pt;">
Agarrada à saia do vento veio a
chuva, chufininha, umedecendo. Se eu fosse raiz fincada em solo fértil brotaria
como brotou aquele pé-de-mamão num túmulo do cemitério de Justinópolis. Os
frutos nasciam aos pares, sempre. Pendiam como os tristes testículos de um deus.
Pendiam, como os peitos caídos da terceira idade.<o:p></o:p></div>
<div class="Standard" style="text-indent: 35.45pt;">
Testículos e peitos que os
coveiros comiam.<o:p></o:p></div>
<div class="Standard">
<br /></div>
<div class="Standard" style="text-indent: 35.45pt;">
Uma anedota<o:p></o:p></div>
<div class="Standard" style="text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="Standard" style="text-indent: 35.45pt;">
Dizem que um morto enterrado no
cemitério de Justinópolis foi condenado por algum ser inefável a continuar
enxergando para sempre. Por isso de seu túmulo feioso nasceu uma robusta jabuticabeira.
Cada Jabuticaba, pasmem, era um olho.<o:p></o:p></div>
<div class="Standard" style="text-indent: 35.45pt;">
Ai que medo.<o:p></o:p></div>
<div class="Standard" style="text-indent: 35.45pt;">
A rotina do cemitério era aquela
pasmaceira, nem um pouco interessante de
ver: abre buraco, fecha buraco; entra cortejo, padre rezando, dentadura
escapando.<o:p></o:p></div>
<div class="Standard" style="text-indent: 35.45pt;">
Assim, assim.<o:p></o:p></div>
<div class="Standard" style="text-indent: 35.45pt;">
Ai meu deus.<o:p></o:p></div>
<div class="Standard">
<br /></div>
<div class="Standard" style="text-indent: 35.45pt;">
Numa manhã esquizofônica em que
bem-te-vis cantavam nos intervalos dos ruídos de uma britadeira, um casal
depositava flores no túmulo vizinho do condenado, enquanto tentavam, a seu
modo, se comunicar com a morta recente e querida.<o:p></o:p></div>
<div class="Standard" style="margin-left: 35.45pt;">
O defunto dos mil olhos de jabuticaba
morria ( ha!) de inveja de situações desse tipo. Ninguém o visitava, coitado.
Não era digno de rosas. Teve vontade de gritar: “Também quero uma flor!”.<o:p></o:p></div>
<div class="Standard" style="text-indent: 35.45pt;">
Mas fora condenado a ter olhos e
não bocas.<o:p></o:p></div>
<div class="Standard" style="text-indent: 35.45pt;">
O casal se sentiu observado.<o:p></o:p></div>
<div class="Standard" style="text-indent: 35.45pt;">
Ai que medo.<o:p></o:p></div>
<div class="Standard" style="text-indent: 35.45pt;">
Ai meu deus.<o:p></o:p></div>
<div class="Standard">
<br /></div>
<div class="Standard" style="text-indent: 35.45pt;">
Vez em quando um coveiro ia até a
frondosa árvore carregada de frutinhas brilhantes, arrancava um punhado delas e
chupava, com gosto.<o:p></o:p></div>
<div class="Standard" style="text-indent: 35.45pt;">
O defunto morria (ops!) de ódio.<o:p></o:p></div>
<div class="Standard" style="text-indent: 35.45pt;">
“Vá chupar o olho do cu da vó”<o:p></o:p></div>
<div class="Standard" style="text-indent: 35.45pt;">
Queria gritar.<o:p></o:p></div>
<div class="Standard" style="text-indent: 35.45pt;">
Mas fora condenado a ter olhos e
não bocas.<o:p></o:p></div>
<div class="Standard">
<br /></div>
<div class="Standard" style="text-indent: 35.45pt;">
Um pô, Emma! em homenagem a
anedota que inventei:<o:p></o:p></div>
<div class="Standard">
<br /></div>
<div class="Standard">
Aqui jaz.<o:p></o:p></div>
<div class="Standard">
Aqui, jamais.<o:p></o:p></div>
<div class="Standard">
Aqui<o:p></o:p></div>
<div class="Standard">
apenas<o:p></o:p></div>
<div class="Standard">
jabuticarás.<o:p></o:p></div>
<div class="Standard">
<br /></div>
<div class="Standard" style="text-indent: 35.45pt;">
Bruce Dickinson e Emily Dickinson
não eram casados, oh meu sonho. Eles nasceram em séculos diferentes oh, meu
cérebro. Além do que ela era tão branca voz da solidão e ele tão fear of the
dark.<o:p></o:p></div>
<div class="Standard">
<br /></div>
<div class="Standard" style="text-indent: 35.45pt;">
<span lang="EN-US">Fear of the dark!<o:p></o:p></span></div>
<div class="Standard">
<br /></div>
<div class="Standard" style="text-indent: 35.45pt;">
Fear of the dark!<o:p></o:p><br />
<br /></div>
<div class="Standard" style="text-indent: 35.45pt;">
Dá certo não.<o:p></o:p></div>
<div class="Standard">
<br /></div>
<div class="Standard">
Já vai
amanhecer?<o:p></o:p></div>
<div class="Standard">
Sei não.<o:p></o:p></div>
<div class="Standard" style="text-indent: 35.45pt;">
O vento continua arremessando na
janela os destroços das coisas.<o:p></o:p></div>
<div class="Standard" style="text-indent: 35.45pt;">
E eu aqui.<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="Standard" style="text-indent: 35.45pt;">
Louquinha, louquinha de pedra
lascada.<o:p></o:p></div>
Simone Teodorohttp://www.blogger.com/profile/08248117674634391169noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-36862554.post-25097512730043674802014-08-18T03:09:00.002-03:002014-08-23T23:32:50.651-03:00O que o lixo me deu<br style="background-color: white; color: #37404e; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;" />
<span style="background-color: white; color: #37404e; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">Eu era Criança-Menina</span><br />
<span style="background-color: white; color: #37404e; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">Um Pássaro Sujo </span><br />
<span style="background-color: white; color: #37404e; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">e com fome</span><br />
<br style="background-color: white; color: #37404e; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;" />
<span style="background-color: white; color: #37404e; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">E o lixo me deu</span><br />
<span style="background-color: white; color: #37404e; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">certa vez</span><br />
<span style="background-color: white; color: #37404e; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">um saco repleto de livros;</span><br />
<span style="background-color: white; color: #37404e; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">uns bonecos tristes e mutilados</span><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;"><br />e um caderno velho de poemas<br /><br />que eu lia pros gatos;<br />que eu lia pra lua<br />que eu lia na rua<br />quando lá não havia ninguém.<br /><br />E o lixo me deu outras coisas:<br />porque lá atiravam<br />pneus em chamas<br />então o lixo me deu minha primeira queimadura;<br /><br />porque lá atiravam cacos de vidro<br />então o lixo me deu meus primeiros ferimentos;<br /><br />porque lá atiravam animais que morriam<br />então o lixo me deu o cheiro podre<br />do corpo sem alma.<br /><br />O lixo me deu<br />certa vez<br />uma caixa com muitas memórias dos outros:<br />cartões com figuras em alto-relevo<br />que guardavam mensagens de desejos de felicidades eternas;<br />cartas para um amor distante;<br />pequenas anotações ordinárias;<br />fotografias em sépia.<br /><br />O lixo meu deu<br />misturada a cor amarela daqueles papéis<br />uma miséria que era maior que a miséria<br />que eu tinha,<br />e eu senti com força<br />a força de toda saudade do que não existia<br />e um gosto<br />de tempo<br />de resto<br />e ruína.<br /><br />Eu era uma Criança-Menina.<br />Eu era a Menina Encardida<br />que ninguém queria amar.<br /><br />Eu lia poemas pros gatos;<br />eu lia poemas pra lua;<br />eu lia poemas na rua<br />quando lá não havia<br />ninguém.</span>Simone Teodorohttp://www.blogger.com/profile/08248117674634391169noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-36862554.post-59458458756963013482014-08-14T13:11:00.001-03:002014-08-14T13:11:17.905-03:00Refrão para um blue<br style="background-color: white; color: #37404e; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;" /><br style="background-color: white; color: #37404e; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;" /><span style="background-color: white; color: #37404e; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">Sonhei que tinha perdido uma caixinha vermelha, com algo valioso dentro.</span><br style="background-color: white; color: #37404e; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;" /><span style="background-color: white; color: #37404e; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">A pessoa que eu mais amava no mundo brigou comigo e, em seguida, me deixou.</span><br style="background-color: white; color: #37404e; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;" /><span style="background-color: white; color: #37404e; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">A caixinha vermelha com algo valioso dentro não era aquela que guarda minha gaita.</span><br style="background-color: white; color: #37404e; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;" /><span style="background-color: white; color: #37404e; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">A caixinha vermelha era meu coração.</span>Simone Teodorohttp://www.blogger.com/profile/08248117674634391169noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-36862554.post-63089007581482526892014-08-14T13:10:00.001-03:002014-08-14T13:10:48.600-03:00Refrão para uma manhã chuvosaAmor que grita<br />
e ninguém escuta<br />
<br />
Amor que abre<br />
a ferida oculta<br />
<br />
Amor que morre<br />
e ninguém sepultaSimone Teodorohttp://www.blogger.com/profile/08248117674634391169noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-36862554.post-87226735132452188052014-07-30T09:36:00.001-03:002014-07-30T09:37:19.153-03:00Balada para uma estrela partida<br style="background-color: white; color: #37404e; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;" />
<span style="background-color: white; color: #37404e; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">Se uma estrela se partisse</span><br />
<span style="background-color: white; color: #37404e; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">em minhas mãos,</span><br />
<br style="background-color: white; color: #37404e; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;" />
<span style="background-color: white; color: #37404e; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">cortariam os meus dedos</span><br />
<span style="background-color: white; color: #37404e; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">seus pedaços?</span><br />
<br style="background-color: white; color: #37404e; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;" />
<span style="background-color: white; color: #37404e; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">Estilhaços são estilhaços...</span><br />
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;"><br />E se a lua arrebentar<br />há dor também<br /><br />Como toda dor<br />fincada em cacos:<br /><br />1- do copo<br />que continha o leite derramado;<br /><br />2-do anel que tu me deste<br />( o que era vidro)<br /><br />3- do amor que tu mentias.</span>Simone Teodorohttp://www.blogger.com/profile/08248117674634391169noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-36862554.post-76711833819702537112014-06-27T11:17:00.001-03:002014-06-27T11:32:06.406-03:00Sem título<span style="background-color: white; color: #37404e; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">Hoje acordei me contorcendo de cólicas, chamando por Raquel.Mas ela já tinha ido embora e eu já sabia disso, porque ela sempre sai antes de mim. Mesmo assim, eu fingi que não e percorri todo o apartamento repetindo o nome dela.</span><br style="background-color: white; color: #37404e; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;" /><span style="background-color: white; color: #37404e; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">Aí foi a hora da madeleine mergulhada no chá: o cheiro e o frio de uma outra manhã entraram pelas janelas. Era 1986, acho. Eu tinha 5 anos. Me lembro de ter acordado e de </span><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">ter notado a ausência de minha mãe. Percorri todo o barraco ( que para mim era enorme, por causa do meu tamanho e tinha ficado maior porque ela não estava lá)<br />Acordei meu irmão. Contei pra ele sobre meu desespero. Não sei qual de nós dois teve a ideia de sair a procura da mãe pelas ruas do bairro.<br />Saímos. De mãos dadas ( acho que foi a única vez em nossas vidas que andamos assim: depois disso nossos punhos sempre estiveram fechados: ele para bater e eu para redobrar a força da defesa)<br />Meu irmão era também cabeludo. Tinha cabelos lisos, como os de minha mãe. Os meus eram Black Power, como os de meu pai.<br />Não andamos nem um quarteirão assim, descabelados, cheios de meleca no nariz e desamparados: na primeira esquina nos encontramos com ela, que tinha saído pra comprar pão.<br />Brigou com a gente, não entendeu a nossa solidão.<br />Tirou as melecas dos nossos narizes, fez uma trança nos meus cabelos.<br />Retornamos, os três, de mãos dadas, para casa.</span>Simone Teodorohttp://www.blogger.com/profile/08248117674634391169noreply@blogger.com1