terça-feira, janeiro 04, 2011

Briga de rua

A pedra veio voando em direção a minha  cara e acertou em cheio  minha boca, cuja rosada delicadeza destoava da robusta variedade de palavrões que ,constantemente ,dela nascia.
Cuspi: sangue e uma lasca de um dos dentes da frente.  Justamente um dos dentes da frente,  caralho.
Mato esses ordinários ,pensei. Filhos da puta.
Eram quatro irmãos: duas meninas e dois meninos.
Ficaram parados vendo a pedra voar até minha boca e arrebentá-la, com o peso de um muro todo inteiro.
Após o  cuspe devo ter feito cara de “lutador do bem com intenções de virar o jogo depois ter sido espancado”,  aquela expressão de ”isso não vai ficar assim”, com a clássica “limpadinha”,com as costas das mãos, da baba e do filete de sangue que escorrem no canto dos lábios.
Então, exibindo minha hipotética máscara de coragem, avancei sobre meus inimigos.
Os piores círculos do inferno me habitavam.
Meus punhos de metal exigiam frágeis narizes. Minha selvageria reinvindicava ossos quebrados na face alheia.
Fui atraída para um portão comido pela ferrugem. No beco, uma armadilha era perversamente engendrada.
Eles haviam sumido e fiquei olhando para o vazio impresso numa parede coberta de lodo. O capim, molhado pela última chuva, provocava coceira em meus pés descalços.
Súbito, o bote sorrateiro da irmã mais velha: seus dedos, vindos da puta-que-a pariu, se enroscaram  nas raízes dos meus cabelos e se fecharam, como a boca de uma planta carnívora.
Com força, ela bateu minha cabeça na parede suja. Uma, duas, três vezes.
Caí.
A dor tinha cheiro de lodo ,de capim molhado,  de terra e  sangue.
__ Ela morreu__ Alguém disse.
A irmã mais velha riu, como uma moira satisfeita.

3 comentários:

Rangel disse...

Me fez lembrar o livro escrito pela morte: " Amenina que roubava livros" acho que pelos infantes violentos, o boxe e a lama.

Maandhy disse...

Moral da história:

" Nunca encare desconhecidos! "

Gelly A. disse...

Perfeito. Sem retoques.