quarta-feira, janeiro 21, 2009

Hormônios colidindo com estrelas


Ao passar uma temporada de extase no inferno, Rimbaud, o alquimista das palavras delirantes, proferiu: " Sei hoje saudar a beleza".O saber exige aprendizado, processo, ainda mais quando se trata de algo que diz respeito à sensibilização do olhar, à abertura dos poros,à educação dos ouvidos.Vemos o "Belo".O tocamos às vezes. O ouvimos.Uma sinfonia, uma tela expressonista, uma pétala orvalhada na moldura triste de uma manha fria de inverno...Imagens e sons. Tato. Olfato. Audição.
Saudar: tirar o chapéu, reverenciar, acenar com as mãos.Não quero mais o desespero dessa limitação.
Com ela, me acostumei a colocar a beleza em minha boca, mordê-la de leve, como quem espreme entre os lábios uma borboleta, numa atmosfera absurda. Prefiro que a beleza possua meu corpo,a começar pelo nariz, violentado por perfumes singulares, tais como adocicados cheiros de fios de cabelos cor- de ouro e de seios ardendo de desejo.Os seus perfumes singulares. Que provocam a fúria de minha delicada voracidade.Uma vez, numa mesa de bar, rabisquei para ela, num pedaço amassado de papel, umas palavras que diziam que eu tinha me tornado uma incompetente poeta, uma vez que ela tinha substituido a poesia em minha vida, por ser a minha fuga de todos os clichês e meu salto para fora de todas as convençôes.Todo poeta vive assim:Remexendo um caldeirão repleto de poções mágicas em busca de versos que cantem uma melodia diferente. Uma melodia digna de saudaçoes. O poeta quer fazer a palavra cantar. O poeta que tornar a beleza audível, visível, tocável.Mas chega o momento decisivo, de insustetável sofrimento: é quando o poeta deseja comer a beleza. Se cansa do velho caldeirão e começa a mastigar pétalas, beber as águas das chuvas, devora, literalmente, paginas inteiras de poesia. E o sofrimento reside justamente no fato de nem as flores, nem as águas, nem os livros de poemas poderem retribuir seu amor. O poeta deseja e ama sozinho. Eis a sua tragédia. Muitas vezes é tão imensurável seu desespero que a vida já não basta. E ele decide morrer.
Passei minha vida remexendo o tal caldeirão.Mas, como rabisquei naquele papel pardo, há alguns anos, isso não faz mais sentido.
Ela enche meus olhos de luzes mágicas, de cores impossíveis, de delicadezas de gestos, de sinuosidades deliciosas entre lencóis, de movimentos sutis de lábios molhados entreabertos, da lascívia magnífica de dedos deslizando em meio às pernas, seios, boca que me nutre.Ela transborda meus ouvidos de sons de hormônios colidindo com estrelas e astros e nuvens de tempestades e harmonias inquietantes em espaços oníricos onde escorre lava.Ela enche minhas mãos de curvas, onde me perco por instantes, para , em seguida, nos encontrarmos, exaustas de amor .Ela é a minha mais incrível "experiência" poética.
Aprendi a devorar a beleza.

Um comentário:

Unknown disse...

Muito massa...