domingo, janeiro 27, 2008

Imagens sobrepostas




I


Campo imenso: meus pés massacram morangos maduros que explodem dramáticos espirrando vermelhos variados.


Uma perspectiva de infinito, associada a um céu doloroso de outono( "os verdes e os rubros do crepúsculo...") confere à cena uma tonalidade erótica: sou feita de labaredas audazes, que anseiam por devorar o infinito, a dor do azul, a alegria melancólica do outono, os morangos explosivos.


Perfumes de rosas gritam agudos e ferem meus sentidos já perturbados por tanto céu, tanta dor, tanto fogo...


" A vida verdadeira está ausente"

" O amor precisa ser reinventado"_ Ele disse.


Rimbaud me comove, você sabe, e choro maravilhosamente sobre essas frutas arrebentadas, meus pés assassinos tingidos de sangue... Iniciada na ausência( único estado ontológico onde a vida original é possível) sorvo o sal de cada lágrima, como sorvo gota a gota teu sexo que, neste instante, se dilui docemente sob a suavidade do meu toque.


II


Bebo-te lenta e aflita, faminta e extasiada...

Rosa umedecida que se abre, dócil para meus beijos pervertidos...

Borboleta insana dos meus sonhos mais antigos...

É claro que o amor está me consumindo...

Pétalas terríveis me arrebatam para o desejo de com você

ser flor

me diluindo...


Nos tornamos coração? Flor, céu, fogo, lenda, pecado,delírio, dilúvio, asas de mariposa?


De poros bem abertos posso acolher-te no lado inverso de minha pele. Fazer de ti habitante de mim. Beber teu sangue, mastigar tua carne, comer teus cabelos. Com a volúpia doce de quem devora uma pétala.


III


Meu Cálice Sagrado,


teus dedos e língua me vasculham e, ausente, triunfo.

"Um paraíso de tempestade despedaça"

"A lua queima e uiva"


Reinvento cores, sonhos, palavras, outras eras, países distantes, substâncias primordiais, epifanias lunares, orvalhos, manhãs frescas de outono, montanhas, ventanias, canções de ninar, delicadezas de pássaro...


Minha Poesia inquietante,

deliciosamente erótica

absurdamente lírica,

fluindo

cálida e intensa

como morangos arrebentados, sob pés delicados de menina, num campo profundo, azul de infinito, numa tarde outonal.


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