terça-feira, outubro 18, 2011

O monstro do armário VIII


__ Cadê a tatuagem?__ Marina perguntou, à queima roupa.__ Ontem fiquei doida pra ver.
__ Ah... A minha lobinha...__ Disse Cláudia, abrindo um esplendoroso sorriso sacana no entre- parênteses da face morena.
Afastou os cabelos das costas e se virou, de modo que Marina pudesse ver o desenho colorido.
Marina estremeceu. Chegou muito perto de Cláudia. A amiga tinha uma nuca linda e o cheiro que vinha de lá a adoeceu. E a loba era o máximo. Dava vontade de sentir com os dedos. Dava vontade de sentir com os lábios. Marina tocou o trecho tatuado e, num impulso inconsciente aproximou a boca das costas de Cláudia, mas antes de beijá-la, foi interrompida por um grupo histérico de alunas do segundo ano que entrava eufórico no banheiro, quebrando o encanto daquele momento de encontro.
As duas ficaram um pouco constrangidas, mas fingiram que uma estava abotoando o sutiã da outra. Lá fora continuaram a conversa:

__ Cláudia, to tão feliz por ter te conhecido! É uma felicidade estranha. Parece que to em estado de graça.
As duas trocaram olhares comovidos e se abraçaram. Marina pensou que fosse explodir, mas era alarme falso.
__ Você tem muitos amigos? Perguntou Marina.
Cláudia respondeu:
__ No México eu tinha. Minha mãe não gostava muito deles. Por isso me mandou pra cá. Dizia que as amizades negativas não estavam me fazendo bem. Muito tradicional, ela.
__Mas por que ela não gostava dos seus amigos? Aposto que eram maconheiros. Que careta ela... Que pessoa da nossa idade nunca fumou um?
__ Eles eram todos gays. Homens gays, mulheres gays. Foi por isso. E ninguém gostava de maconha.__ Disse Cláudia, sorrindo.
__ Como assim?
__ Todo mundo era bicha e sapatão. Fui clara?
__ Eu entendi. Mas por que você andava com gente desse tipo? Se eu fosse sua mãe também ficaria brava.

Cláudia se enfureceu:
__ Não acredito que to ouvindo isso de você!

Marina se assustou e disse:
__ Calma, Claudia, você está gritando! Por que ficou assim tão nervosa de repente? O que eu fiz?
Cláudia a interrompeu, mais transtornada ainda:

__ Preste atenção, pirralha: como você queria que eu me sentisse? Primeiro você fica morrendo de vontade de ver minha tatuagem. Depois, me dá uma alisada daquela lá dentro do banheiro, e, por pouco, não me dá uma lambida também! Depois diz que está em estado de graça por ter me conhecido... E olha que a gente se conheceu ontem! E eu aqui, sentindo as mesmas coisas e acreditando que estivesse acontecendo algo entre a gente. Então você me dá um banho de água fria com esse papo preconceituoso... Que decepção.

__ Claudia, eu quero uma amiga. Pensei que...
__ Amigas não ficam se desejando, Marina.
Ao dizer isso, se afastou magoada, sem se despedir.

Marina era uma efígie muda no coração do I.E.

As últimas aulas foram um suplício. Marina estava confusa. Não queria ser mal- interpretada, estava também assustada com aquela felicidade mágica e estranha que sentia e o com o transe que quase a levou a beijar as costas da amiga. O que estaria acontecendo?Seu coração estava atormentado.
Quando a aula terminou, Marina foi até o armário de Cláudia e deixou um bilhete que dizia o seguinte:

Claúdia,
Desculpa!
Tô confusa...
Se ainda quiser conversar comigo, vai lá em casa: A gente toma uns vinhos e eu te mostro uns discos.
Um beijo, na loba.

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