sexta-feira, setembro 20, 2013

Distraídas astronautas

O céu sempre me pareceu
tão masculino
todo azul
e com um deus morando  dentro

( segundo as narrativas da mãe
quando eu ainda era o inchaço em seu ventre
e captava sussurros
pelas viscosidades da placenta).

Um deus de barba branca
no trono- ela dizia.
Trovejante voz paterna
ordenando o alternar dos dias
e das estações e dos tons de azul
do céu
que sempre me pareceu tão masculino
Porque lá tinha um trono.
Porque lá tinha uma ordem.
Porque lá tinha um grito.

Mas então vem a lua
e um império inteiro desaba.
Odores de fêmea
umedecem os ares.

A lua, inchada
como a barriga da mãe
quando me contava mentiras

A lua, pálida ou vermelha
ou quando a sombra ameaça
sua estranha claridade.

E de perto ( bem de perto)
-Por dentro-
Uma profusão de chagas escancaradas
Crateras
sobre as quais
distraídas astronautas
de tempos em tempos
 vêm pisar
alargando feridas
fincando bandeiras
enlouquecendo
Para, em seguida,
Desaparecerem para sempre.

2 comentários:

Rapha disse...

Que linda harmonia estrutural da sua poesia e que linda harmonia que a mulher traz ao mundo!

Lourdinha disse...

Muito lindo, como que vou comentar sua poesia?.só leio.