O céu sempre me pareceu
tão masculino
todo azul
e com um deus morando dentro
( segundo as narrativas da mãe
quando eu ainda era o inchaço em seu ventre
e captava sussurros
pelas viscosidades da placenta).
Um deus de barba branca
no trono- ela dizia.
Trovejante voz paterna
ordenando o alternar dos dias
e das estações e dos tons de azul
do céu
que sempre me pareceu tão masculino
Porque lá tinha um trono.
Porque lá tinha uma ordem.
Porque lá tinha um grito.
Mas então vem a lua
e um império inteiro desaba.
Odores de fêmea
umedecem os ares.
A lua, inchada
como a barriga da mãe
quando me contava mentiras
A lua, pálida ou vermelha
ou quando a sombra ameaça
sua estranha claridade.
E de perto ( bem de perto)
-Por dentro-
Uma profusão de chagas escancaradas
Crateras
sobre as quais
distraídas astronautas
de tempos em tempos
vêm pisar
alargando feridas
fincando bandeiras
enlouquecendo
Para, em seguida,
Desaparecerem para sempre.
2 comentários:
Que linda harmonia estrutural da sua poesia e que linda harmonia que a mulher traz ao mundo!
Muito lindo, como que vou comentar sua poesia?.só leio.
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