segunda-feira, fevereiro 10, 2014

Um poema de Anne Sexton

Elizabeth foi embora

1
Você jaz no ninho de sua morte real.
Muito além das pontas dos meus dedos nervosos
que tocavam sua cabeça movente
Sua velha pele enrugando-se, o sopro dos pulmões
curto como de menina quando levanta a vista,
até encontrar meu rosto balançando sobre o leito humano.
E, em algum lugar, você gritou: me deixe ir embora, me deixe ir embora...

Você jaz na jaula de sua última morte
Mas não era você
Rechearam suas bochechas, eu disse;
essa mão de argila, essa máscara de Elizabeth
não são verdadeiras. De dentro do cetim e da camurça desse leito inumano
algo gritou: me deixe ir embora, me deixe ir embora...

2
Eles me deram suas cinzas e fragmentos de ossos.
Chacoalhando como cabaça, numa urna de papelão
Chacoalhando como pedras  abençoadas pelo forno que te consumiu.
Te esperei na catedral de feitiços,
E te esperei no país dos vivos
ainda com a urna ecoando em meu peito
quando  algo gritou: me deixe ir embora, me deixe ir embora...

Assim que joguei fora o que restou de seus ossos
 me ouvi gritando por sua face perdida
sua cara de maçã, pelo simples abrigo
 de teus braços, os odores de agosto de sua pele. Depois separei seus vestidos
e os amores que você deixou, Elizabeth.
Elizabeth, até que você foi embora.

Tradução: Simone Teodoro
 Anne Sexton . Elizabeth gone. In  To bedlam and part way back- 1960

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